fotoblog solar dedicado à preguiça e à colheita das imagens que diariamente se cruzam com o autor e lhe alimentam o ego.
Friday, August 25, 2006
headbanger
2 comments:
Anonymous
said...
Bonecas, aos milhares, estão a cair do céu e eu olho para cima com medo e pergunto-me quem as irá apanhar? As folhas, segurando-as como pratos verdes? Os charcos, abertos como copos de vinho para as beber? Os topos dos edifícios para se esmagarem nas suas barrigas e deixa-las ali para ganhar fuligem? As auto-estradas com as suas peles duras para que sejam atropeladas como almiscareiros? Os mares, à procura de algo que choque os peixes? As cercas eléctricas para lhes queimar os cabelos? Os campos de milho onde podem estar sem ser colhidas? Os parques nacionais onde séculos mais tarde Serão encontradas petrificadas como bebés de pedra?
Eu abro os braços e apanho uma, duas, três…dez ao todo a correr para a frente e para trás como um jogador de badmington, apanhando as bonecas, os bebés onde eu pratico, mas outras estilhaçam-se no telhado e eu sonho, acordada, eu sonho com bonecas a cair. que precisam de berços e cobertores e pijamas, com pés verdadeiros Porque é que não há uma mãe? Porque é que estas bonecas todas estão a cair do céu? Houve um pai? Ou os planetas cortaram buracos nas suas redes e deixaram a nossa infância sair, ou somos nós as próprias bonecas, nascidas mas nunca alimentadas.
Por interstícios das malas abertas de quando éramos crianças gritam as bocas sem nenhum eco das bonecas. Criaturas fictícias, escalpelizadas e sem tintas, de ventre oco. Mas o mortal lugar do coração está ainda a palpitar. O bojo do peito de celulóide, como o meu, pede-nos perdão pela saudade que nos devora.
2 comments:
Bonecas,
aos milhares,
estão a cair do céu
e eu olho para cima com medo
e pergunto-me quem as irá apanhar?
As folhas, segurando-as como pratos verdes?
Os charcos, abertos como copos de vinho
para as beber?
Os topos dos edifícios para se esmagarem nas suas barrigas
e deixa-las ali para ganhar fuligem?
As auto-estradas com as suas peles duras
para que sejam atropeladas como almiscareiros?
Os mares, à procura de algo que choque os peixes?
As cercas eléctricas para lhes queimar os cabelos?
Os campos de milho onde podem estar sem ser colhidas?
Os parques nacionais onde séculos mais tarde
Serão encontradas petrificadas como bebés de pedra?
Eu abro os braços
e apanho
uma,
duas,
três…dez ao todo
a correr para a frente e para trás como um jogador de badmington,
apanhando as bonecas, os bebés onde eu pratico,
mas outras estilhaçam-se no telhado
e eu sonho, acordada, eu sonho com bonecas a cair.
que precisam de berços e cobertores e pijamas,
com pés verdadeiros
Porque é que não há uma mãe?
Porque é que estas bonecas todas estão a cair do céu?
Houve um pai?
Ou os planetas cortaram buracos nas suas redes
e deixaram a nossa infância sair,
ou somos nós as próprias bonecas,
nascidas mas nunca alimentadas.
Anne Sexton
Por interstícios das malas abertas de quando éramos
crianças gritam as bocas sem nenhum eco
das bonecas. Criaturas fictícias, escalpelizadas
e sem tintas, de ventre oco. Mas o mortal
lugar do coração está ainda a palpitar.
O bojo do peito de celulóide, como o meu,
pede-nos perdão pela saudade que nos devora.
Fiama Hasse Pais Brandão
Post a Comment